Ainda Orangotangos - o filme


Hoje fui ao cinema para assistir a adaptação de “Ainda Orangotangos”, livro homônimo do ótimo escritor, vindo do frio do Rio Grande Sul, Paulo Scott e um dos seletos que participam do projeto Amores Expressos (o qual já escrevi a respeito aqui). Qual não foi a minha surpresa ao sair do cinema com um esgar de sorriso no rosto… Não estou dizendo que gostei (muito) (e nem o contrário), mas sou meio muito pé atrás com adaptações literárias, mas confesso que essa me surpreendeu por alguns poucos motivos: 1) adaptar um livro de contos não para qualquer um; 2) a solução achada para tal feito foi simplesmente GENIAL; 3) e só. A saber, o filme é o “amarrado” das vidas de pessoas “comuns” num dia em Porto Alegre (mas podia ser em qualquer metrópole do planeta) e suas rotinas, preenchidas com uma dose de… delírio(?) bizarro(?), nonsense(?) que faz tudo e a todos transitarem entre o real e o ficcional.
O filme começa com um casal de japoneses no trem, sofrendo de calor e meio sonolentos. Próximos de chegarem ao seu destino o japonês percebe que há algo errado com a sua parceira, ele entra em desespero e tenta pedir ajuda as outras pessoas do trem, só que ninguém fala japonês e pior: ninguém parece notá-los. Ele então simplesmente resolve abandonar o corpo(!), já morto, da japonesa no vagão… Sai da estação de trem visivelmente aturdido e chocado, entra no Mercado Municipal de POA praguejando na sua língua com quem encontra no caminho (inclusive Papai Noel), até encontrar um moleque de rua com uma camisa do Internacional e subitamente entabula um diálogo em português(!) com ele e ainda lhe vende um relógio (‼‼) chinfrim. A partir daí, a câmera segue apenas o garoto, que pega um ônibus e nele encontra duas mulheres e o foco narrativo passa a ser o delas. De maneira geral é assim Ainda Orangotangos, do ponto de vista de um personagem para o outro, num revezamento; de apenas um PLANO-SEQÜÊNCIA – o genial da coisa toda – no mais, como filme, é apenas regular a bom, não há uma “história” se desenvolvendo (mesmo que fossem as várias) não culmina em nada e o fato de ser só uma câmera e o experimentalismo do plano-seqüência, ela não precisava ser tão… tosca. (ô gente, stead-cam, por favor!) a tremedeira enjoa e não acrescenta em nada a linguagem do filme: não passa urgência, não cria tensão e nem o “ar documental”, apenas cansa. São quase esquetes – influência do Youtube? Quanto à adaptação das histórias em si, bem, eu identifiquei quatro contos, de cabeça (depois que desenterrar o livro de uma pilha que apóia outra eu confirmo). Como todo filme “baseado na obra de…”, muita coisa muda e você tem que ficar montando quebra-cabeças, não foi diferente. O diferente foi que é o filme é uma releitura dos contos. Esse é o ponto positivo. O filme não passa a pretensão de ser a transliteração do livro em película. Claro, muita coisa se perdeu, como o conto “Pusilânimes no café-da-manhã” (um dos meus preferidos), que virou outra coisa. Já o conto “Martin” ganhou contornos menos melodramáticos na tela e ficou melhor – o garotinho com a camisa do Inter dá show! E mostra um pouco do que são os personagens de PS: um lado banal e comum, outro banalizado e sombrio. Mas há um exagero no humor que não existe na obra original.
Só não entendo até agora o principal problema do filme: ele se chama “AINDA ORANGOTANGOS”, homônimo do livro, que por sua vez é um título dos contos, ou seja, não é à toa que ele se chama assim, mas, agora me expliquem por que justamente esse conto não foi adaptado??? E se ele é um dos melhores de todo o livro e perfeitamente imagético, possibilitando uma transposição??? Pois é, fiquei com essa mesma cara… Enfim, vale (muito) como filme (gostar foi a razão do meio sorriso da saída aliada a não compreensão dos que também saiam), vale como novidade narrativa (me fez lembrar David Lynch, quanto ao delírio, real x irreal), mas não vale como adaptação – queria saber o que o Paulo Scott achou dele…

NOTAS: fiquei surpreso com o número de cabeças branca e pernas reumáticas à saída anterior da minha sessão e durante a minha própria! Não é preconceito, mas não creio que literatura contemporânea adaptada para um cinema (supostamente) contemporâneo seja a deles. Mas posso estar (muito) errado.

A trilha sonora... sensacional, louca-louca.

A maneira em que o título aparece na tela é muiiito original.

O que é o sotaque dos pampas?? Triadoro, bah!
    

2 comentários:

Ricardo Freitas disse...

ai, meu deus!! mudou tudo de novoooooo!!
mas tá lindo, como sempre!
arrasou!

Unknown disse...

Pois é!! Aquele tava muito "carregado", poluído, esse está mais... mais clean.

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