SEGUNDA CHANCE
Eu não sabia o que tinha ido fazer naquela boate até vê-la. Revê-la. Roberta dançava num dos ambientes do lugar; pude perceber uma mudança nos seus passos assim que me distinguiu no meio da massa. Fiz questão de passar perto... o som era filha-da-putamante alto:
“Oi Roberta!” – gritei ao passar por ela e segui o meu caminho. Eu parecia um modelo, todo ereto, rígido, impassível e sem cérebro; na verdade eu queria voltar, (mais uma vez) pedir desculpas e tentar de novo. Sou um cara legal. Sei que fiz merda, que errei. Só queria uma segunda chance. E tenho certeza de que ela ainda me ama; como eu amo ela [merda] a amo, mas também sou covarde. Segui (mesmo) em frente, encontrar meu amigos. Ela não me respondeu e continuou a dançar.
“Porra, cara, desculpa, ainda tentamos te avisar”, disse um dos meus amigos, “Quer que a gente te leve embora?”, zoou outro, que eu sei, tem um olho gordo na Beta...
“Não! É lógico que não! Isso aqui é um lugar público... público para nós dois... cacete, eu quero é uma cerva... Garçom!”
Não sei quantas cervejas eu bebi olhando para ela; não sei o quanto ela ficou dançando daquele jeito olhando para mim, apenas sei que chegou um momento que não suportávamos mais um ao outro. Eu fui para o banheiro e ela para o bar, na volta nos encontramos no caminho da pista.
“Quando namorávamos, não me recordava da sua má educação, Roberta.”
“E eu, Marcelo, da sua inconveniência...”
O beijo veio com uma sofreguidão que os lábios de Roberta faziam doer os meus, tinha certeza que para ela também não estava sendo prazeroso, mas mesmo assim continuamos – tinha de ser daquela única forma –, de alguma maneira conseguimos arrastar as nossas misérias até o banheiro masculino, nos trancamos num dos cubículos. (talvez aquela fosse a nossa segunda chance) Tirar a roupa por completo não seria necessário: eu apenas arriaria as calças, ela..., ela estava de vestido. Roberta sugava a minha língua como quem queria arrancá-la com piercing e tudo, desfiz o seu penteado em poucos segundos e seu rosto sumiu entre a cabeleira castanha cheia de mexas cor-de-rosa, eu sentia o meu pescoço queimar, pela manhã, as unhas de Roberta estariam ali uma por cada de cada vez como uma lembrança daquela noite sem sentido. Meu peito foi a vítima seguinte de Roberta, como ela tirou minha blusa, também não sei, eu estava bêbado e ela com as unhas grandes... cravou com força, não entendi aquele atitude... os lábios dela desciam pela tatuagem no meu tórax, pela minha barriga. Então eu saquei. Desesperado, abri a minha calça e desci a cueca. Ela gargalhou. Eu também. Posicionei a minha mão sobre a sua cabeleira cheia e colorida e mais uma vez, o rosto de Roberta desapareceu da minha vista.
Eu já estava quase lá, ela mordia, assoprava, chupava com força. Aquilo não tava legal. Eu sentia dor, ela nunca fora assim. O que mudara naqueles três meses de distância? Minha cabeça rodava e não sei por que, talvez as cervejas, eu também havia dado dera um tapinha antes de sair de casa. Eu disse: “Roberta eu te amo.” Ela riu e tive a impressão de a ouvirela responder a mesma coisa, mas o riso a traiu. Ela não me amava. Não falei nada, porém sentia tanta raiva que agarrei com força naquela merda de cabelo colorido com as duas mãos e a fazia me engolir, fazia ela me desaparecer. Com força. Raiva. E rapidez. Eu estava prestes a gozar. Ela, incomodada com a minha violência não queria mais, tentou parar, tentou segurar meus braços, mas sou mais forte, então me aranhava e eu nem sentia, buscava meu rosto também para arranhar, graninha, eu sentia mesmo era o seu desespero, sentia a porra vindo, sentia que chegaria a hora, que fecundaria na boca dela sua boca com a minha porra, ela se debatia, tentava apoiar as mãos nas paredes, mas o chão escorregava de tantos mijos, chutava as portas, seus olhos surgiram clementes para mim, eu ri, as lágrimas escorriam, eu também escorria... Então eu senti uma dor muito forte na minha cabeça ou no meu rosto, acho que os dois. Uns caras-nada-a-ver com a gente, ouvindo o desespero da Beta arrombaram o banheiro e me puxaram de lá já me escovando, não sei quantos eram, eu apenas via punhos e coturnos e sons parecidos com de madeira se quebrando – meus ossos. Apenas fiquei sendo surrado... Não reagi, sou um cara legal. Sei que fiz merda, que errei, mas tudo se ajeita. Aí eu berrei: “Roberta, eu te amo!” e ela vai dizer também que me ama... não, não vai. Ela não me ama.
Quem ama engole.
5 comentários:
Fo-da! Muito tudo!
Adorei a velocidade!
A conclusão final é a melhor, parece a "moral da história" de fábulas clássicas.
O lugar tinha que ser underground, os protagonistas alternativozinhos.
Porra!, quem ama engole (não necessariamente nessa ordem). Tu tem umas tiradas ótimas!
sujo e um quê pesado, mas bem escrito.
não precisou enfadar-se em detalhes para eu visualizar a cena.
"filha-da-putamente" bom...
Bruna:Bru, mais uma vez, você é uma das que "me" leem, ao menos as fontes de inspiração, a intenção original era fazer essa coisa de fábula, a coisa meio didática, você depreende, então a moral que subjaz a leitura?
Fábio: Que bom que gostou! Seja bem vindo ao De Vermes! Ser "sujo" e um "quê de pesado" é da minha proposta de escrita mesmo, como, espero, que você venha a perceber. E é uma das várias vertentes da nossa literatura contemporânea, não é mesmo? Assim como eles são imagéticos, atribuo a isso a minha paixão por cinema.
Lindo!! Fodástico!! Mais uma vez, seu final quebrou o lógico... Muito bom!
adorei!!! MTO BOM!!
engraçado: enquanto eu lia, imaginava o john cusack como Marcelo.... enfim,,,,
arrasou!!!!!
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