Clones e simulacros
Já estou cansado... nunca me enganei quanto a minha relação com os livros e que o fato de trabalhar numa livraria poderia mudá-la – surpreendo-me por não ter afetado tanto nesse tempo. Mas têm coisas que não consigo deixar passar: não suporto algo que, nos últimos anos, valeeeeu Código Da Vinci!, vem acontecendo sobremaneira; algo que chamo de modismo temático. Funciona assim: espere que alguém escreva um livro, qualquer um, que ele venda horrores, que ele seja assunto de revistas e rodas de amigos, de salões de beleza, de filas de banco etc.; depois espere fermentar... você testemunhará um fenômeno... uma enxurrada de livros que seguem A MESMA RECEITA do primeiro livro.
Utilizar um mesmo tema não é crime e nem maléfico, pelo contrário, olhares diferentes; reflexões diferentes, sensações diferentes – quem ganha somos nós –, mas quando você lê um livro sobre crianças num país distante e exótico que correm atrás de pipas e depois, e “meio que sem querer”, o Afeganistão passa a ser assunto para mais uns cinco livros;. ou a fábula administrativa entre um monge e um executivo, para logo em seguida ver nas vitrines das livrarias, livros que nas capas trazem estampadas, um carteiro, um motorista, um jardineiro, um não-sei-mais-o-quê dando lições de vida a empresários e outras pessoas bem-sucedidas e aparentemente sem problemas; fique alerta. Torna-se difícil crer que é só mera coincidência e não puro mercantilismo.
Se ficasse apenas nos temas já seria difícil de suportar, mas eles ainda ousam fazer linguagens visuais quase idênticas!!! Compare as capas entre si... os exemplos são vastos, chega uma hora que até fica lúdico...
Não me iludo, sei que tudo é mercadoria; que os homens que controlam o jogo tratam um exemplar de Dom Casmurro ou A Metamorfose da mesma forma que tratariam de bananas e maçãs.
Senhores, onde fica o limite?
2 comentários:
pois é,,, pouca criatividade e mto interesse mercantil,,, trevas,,,
ricardo
Infelizmente, não fica. Você conseguiu resumi o meu sentimento em relação a essa desavergonhada falta de escrúpulos desse que você chama tão corretamente ‘jogo de mercado’. Beijo.
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